No final do ano passado, com o Inverno instalado praticamente desde o fim do Verão, um conhecido antigripal atacou com força os nossos ecrãs , para não nos deixar imunes à sua mensagem: com uma constipação ou gripe não precisas de parar ( era algo deste género).
As viroses atacaram com força cá em casa nesta última quinzena e a verdade é que literalmente e contrariamente à promessa dos senhores da industria farmacêutica, nos obrigaram a parar - tive de descombinar reuniões, ficar quietinha por falta de forças e disposição. Até o pai cá de casa, que alinha mais pela ideologia vigente dos constantes afazeres, sentiu necessidade de abrandar. Se há tratamento e remédio eficaz e comprovado para as virose e constipações é mesmo o descanso ( e muita água!). Mas este assunto não tem só a ver com nos cuidarmos - da forma mais natural e respeitadora - quando nos sentimos doentes.Tem a ver como vivemos os nosso dias - e como as nossas crianças vivem os delas. A ideia de produzirmos a todo o momento começa a enraizar-se desde muito cedo, nas nossas casas e escolas ( quem mais acha um exagero a quantidade de trabalhos e capas que crianças de 2 e 3 anos trazem da escola?!) e sentimos uma necessidade de "apresentar" trabalho, de parecer sempre ocupados, de nos "entretermos" com qualquer coisa. O tempo "livre", o "descanso" não é bem visto nem levado a sério. Outro dia lia um texto belíssimo do Gonçalo M. Tavares sobre umas aves de cativeiro terem, na verdade, a gaiola dentro de si e pensava que nós, de tanto nos encaixarmos no sistema e ele nos "educar" estamos iguais: podemos queixar-nos e é o que mais fazemos!) do ritmo do trabalho, dos programas escolares, do trânsito das cidades, das atividades extracurriculares, dos afazeres que temos de dar conta, e não nos apercebemos de que o ímpeto para não estar quieto, para não sossegar, parar está dentro de nós, seja já quais forem as circunstâncias.( senti isso , e ainda sinto por vezes, mesmo tendo modificado a minha vida profisisonal há quase cinco anos, e mudado para uma cidade mais pequena, há dois). E parar é condição para Reparar: no duplo sentido da palavra. Parar serve para podermos reparar no que nos acontece, em como estamos, para reparar nos nossos filhos e no nosso Amor, na nossa família e amigos. Na Natureza que é uma fonte de bem estar e inspiração, no que acontece à nossa volta. Sem reparar não é possivel refletir, pensar e agir com intenção. E isto é tão importante para nós adultos com poder de fazer a diferença, como para as nossas crianças e a Educação - a que realmente interessa!Falta-lhes -e falta-nos - tempo de ócio, de prazer, tempo sem ser contado. Porque é deste tempo sem fazer nada que surge muitas vezes a criatividade, a inspiração, as melhores ideias. É de o incluirmos, sem medo nem vergonha, na nossa vida que nos tornamos mais produtivos, atentos, focados.( cético? há muitos estudos e linhas de investigação a comprova-lo!) Falta-lhes também -e falta-nos- descanso, pausas, para que se dê a outra reparação: é durante o sono, por exemplo, que o nosso cérebro repara os danos, se livra de toxinas e fortalece ligações que importam. O sono e o descanso não são um "extra", são equipamentos de base vitais para a nossa segurança, saúde e "alta performance". Assumirmos as nossas fraquezas, vulnerabilidades e limites, a cada momento, sabendo que precisamos de nos cuidar, para estar bem, recarregar energias, permitir ao corpo e ao espirito que se recuperem, faz-se de um dia a dia com menos stress e agendas menos sobrecarregadas, não com 10 dias de férias num destino exótico. Claro que a quantidade de "outputs" pode ser comprometida - se pararmos, produzimos menos "coisas" ( muitas delas lixo, não haja dúvidas), compraremos menos, desgastaremos menos, precisaremos de menos. E há uma grande quantidade de pessoas a quem isto não interessa nada ( por exemplo aos senhores que comercializam o dito antigripal). Mas não tenham ilusões sobre os benefícios de não nos sabermos capazes de parar e reparar - não são nenhuns. Nem para nós, nem para as nossas crianças. A aprendizagem, o comportamento, e a saúde fisica e emocional melhoraria sem tantas horas espartilhadas no nosso dia, pressa e afazeres. A mudança não será de um dia para o outro, exige força para remar contra a maré, aprender a difícil arte de viver com menos ( até a tosse e a afonia mostraram como falo demais, alto demais, vezes demais!) e a ainda mais díficil de sossegar o espírito ( aqui entra o mãedfulness) , mas os efeitos secundários de uma vida onde se valoriza o descanso, as pausas e o tempo livre, são de certeza muito positivos, para todos, e tenho a certeza, que nada do que realmente importa ficará por fazer, aliás acontecerá, comcerteza, sempre no seu tempo certo.* *como esta newsletter prometida, que ainda conseguiu chegar até vós, no mês certo!
1 Comentário
Paula
2/4/2020 04:30:31 pm
Adoro 😍 minha querida Mariana💖
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marianamãe a crescer com os seus filhos ❥ praticante de mãedfulness ❥ pertencer à #tribomãedfulness - subscreve o blog aqui
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