Na segunda- feira, há duas semanas atrás, o chão do elevador do meu prédio apareceu sujo - um saco do lixo pousado, talvez. Na terça -feira o chão continuava sujo e agora tinha também um papel colado com fita-cola ao lado e umas palavras sobre civismo ( ou, mais corretamente, a falta dele).
Na quarta -feira, sujidade e papel mantinham-se e agora havia também um odor nada agradável dentro do elevador. Na quinta -feira eu peguei em dois tolhetes húmidos, calcei uma luva e limpei a mancha do elevador e retirei o papel. Na sexta feira contei esta história à minha mãe que me respondeu: "Só tu! Achas isso bem? Achas que assim as pessoas aprendem?" Na segunda- feira da semana passada o chão apareceu outra vez sujo. Na terça apareceu outra vez o bilhete e na quarta eu calcei as luvas, peguei em dois toalhetes e fui limpar e depois fiquei a pensar em algumas coisas associadas a este episódio: * que quando nos livramos do que "nos compete" ou responsabilidades definidas ou do "quem tem de", nos tornamos muito mais livres para sermos exatamente quem queremos ser ou quem a situação exige que sejamos. * que das quatro personagens desta história: a que suja, a que deixa um recado , a que nada faz ou a que limpa eu gosto de ser a que limpa. * que na verdade tantas vezes desgastamo-nos, gastamos energia, perdemos o nosso tempo a fazer algo que não resolve nada em vez de resolvermos a situação - talvez em menos tempo e com um bónus -extra de nos sentirmos bem por ter contribuído. * que não me compete chamar a atenção, "evangelizar" ou dar recados a ninguém, só me compete fazer a minha parte - aí reside , na verdade, todo o meu poder e liberdade. * que invertemos muitas vezes os valores em que acreditamos e o sistema que nos rege é o da culpa/ castigo/ reconhecimento ( limpar o lixo "dos outros" está muito em baixo na escala de tarefas nobres, não é? E ainda assim é tarefa essencial ao nosso mais básico bem estar!) *que podemos mesmo fazer a diferença, contribuir nas coisas mais simples, para o bem estar ( o dos outros ou o nosso são exatamente a mesma coisa, embora às vezes parece que não!) * que atuar, fazer aquilo em que acreditamos, vale muito mais do que chamar a atenção - e digo isto porque esta segunda feira o chão não apareceu sujo outra vez. ( tenho que me lembrar de contar esta parte à minha mãe!) Não se iludam, no entanto por aquilo que esta história não quer de todo transmitir: sou muitas vezes ( muitas!) a que "suja" e outras tantas a que "deixa o recado" - dentro da minha própria casa, com os meus filhos e família próxima, com o meu companheiro e os meus amigos, no meu trabalho, na fila do supermercado, a conduzir. Mas gostei de ter contribuído, neste humilde episódio do elevador, de forma anónima e inteira, de ter feito o que , na verdade e no meu entender, era mais certo e eficaz , sem precisar de fazer alguém sentir-se mal ou de algum reconhecimento que não fosse o que o meu coração me deu a mim mesma - não pela grandiosidade do feito, mas pela autenticidade do gesto. E quero gravar esta pequena história na minha memória para seja mais vezes, a que faz o que o coração lhe diz que tem de ser feito. Espero que vos inspire também.
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